Depoimentos contraditórios apontam perseguição antes de disparos
Por Redação, ac1
Atualizado em 02/05/2025 – 18h33
O caso do policial penal preso na Expoacre ganhou novos desdobramentos após investigações revelarem contradições nos depoimentos das vítimas. Raimundo Neto, ex-diretor de presídio do Acre, permanece detido desde 22 de novembro de 2023, após o Ministério Público recorrer da decisão que havia concedido liberdade provisória.
Um novo documento do Judiciário, datado de 25 de abril de 2025, mostra que a prisão foi decretada em segundo grau e mantida pelo juízo de origem mesmo sem fato novo relevante que justificasse a continuidade da detenção, conforme destacado pelo juiz Fábio Alexandre Costa de Farias, da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Rio Branco.
Raimundo Neto foi preso em flagrante em 7 de agosto de 2023, mas teve a liberdade provisória concedida na audiência de custódia. O Ministério Público recorreu e conseguiu reverter a decisão no Tribunal, resultando na decretação de nova prisão em 22 de novembro de 2023.
Desde então, o policial penal permanece preso, mesmo sem qualquer fato novo no processo, conforme destacou o juiz Fábio Alexandre Costa de Farias, da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco, em manifestação enviada ao Tribunal de Justiça do Acre no dia 25 de abril de 2025.
O documento foi enviado em cumprimento à solicitação de informações feita pelo desembargador relator responsável por julgar o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa. O julgamento do pedido está previsto para ocorrer no próximo dia 22.
“Ressalta-se que a prisão foi decretada no segundo grau e mantida pela decisão deste juízo aos doze dias do mês de março do presente ano, sob o argumento de que inexiste fato novo que possa justificar qualquer alteração em seu estado”, escreveu o juiz.
Na última noite da Expoacre 2023, o policial penal Raimundo Neto foi expulso do bar Tardezinha, dentro do Parque de Exposições, após um desentendimento. Ele foi acusado de atirar em Wesley Santos da Silva, 20 anos, e Rita de Cássia, 18 anos. Inicialmente, também foi apontado como autor de uma importunação sexual, mas depoimentos indicam que o assédio teria sido cometido por seu tio.
Após deixarem o bar, Raimundo Neto e seu tio foram perseguidos e cercados por Wesley, Rita e outras quatro pessoas. Segundo a defesa, eles foram agredidos, e o policial penal disparou no chão para se defender. A pistola de calibre .380 usada na ação foi apreendida pela polícia.
Local do confronto
Depoimentos iniciais indicavam que o caso aconteceu em frente ao bar Tardezinha, sugerindo uma emboscada por parte de Raimundo Neto.
No entanto, as investigações confirmaram que os disparos ocorreram cerca de 60 metros do bar, em frente ao QGVI, próximo ao restaurante JB Grill.
Caminho tomado pelas vítimas
O grupo utilizava transporte por aplicativo (Uber), e o ponto de embarque fica na frente do Parque de Exposições.
No entanto, ao invés de saírem pela frente do parque, as vítimas seguiram para os fundos do evento, na mesma direção de Raimundo e seu tio.
Essa mudança no trajeto reforça a tese de perseguição, contradizendo a versão de que o policial penal teria atacado primeiro.
O advogado de Raimundo Neto, Wellington Silva, afirma que as evidências nos autos comprovam que seu cliente foi agredido antes de atirar.
“Ele foi agredido dentro do bar, depois fora, por seis pessoas. Tanto ele quanto o irmão foram atacados, e utilizou os meios que dispunha para reagir. Essa é a realidade dos fatos, com base no que está nos autos”, declarou o advogado.
Na audiência de custódia, o juiz plantonista considerou que não havia elementos suficientes para decretar a prisão preventiva de Raimundo Neto. No entanto, o Ministério Público do Acre (MPAC) recorreu da decisão, e desde 22 de novembro de 2023, o policial penal segue preso, sem novos fatos que justifiquem a manutenção da detenção.
Outro fator que levanta dúvidas sobre a versão das vítimas é o desaparecimento das imagens das câmeras de segurança do Parque de Exposições. Wesley Santos da Silva, uma das vítimas, trabalhava na empresa responsável pelo monitoramento do evento, mas os registros que poderiam esclarecer os fatos não foram fornecidos.
As investigações seguem em andamento, mas as contradições nos depoimentos colocam em xeque a versão inicial das vítimas. A defesa de Raimundo Neto reforça que o policial penal agiu em legítima defesa e aguarda novos desdobramentos para tentar reverter a prisão.